A constatação é do professor Célio José Borges, coordenador do II Fórum de Educação Física Escolar que aconteceu nos dias 13 e 14 de janeiro em Foz do Iguaçu no Paraná.
Gustavo Heidrich
É precária a situação da Educação Física Escolar – no Brasil e em outros países da América do Sul, como a Argentina. Falta de planejamento e direcionamento específico para as necessidades de cada série e etapa de aprendizagem, carência de material básico, de infra-estrutura e de um programa de atualização dos professores – um cenário bem parecido com o da década de 1960 em que a disciplina não era considerada essencial para a formação dos alunos. Há profissionais mal preparados e acomodados e turmas lotadas. É esse o diagnóstico alarmante da Educação Física Escolar (EFE) brasileira feita pelo II Fórum de Educação Física Escolar que aconteceu nesta semana em Foz do Iguaçu no Paraná.
A EFE é um direito de todos os quase 53 milhões de estudantes matriculados na Educação Básica (Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio) no Brasil, segundo dados do Educacenso de 2007 do Ministério da Educação (MEC), divulgados no último dia 10. De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases (LDB), de 1996, os estudantes têm o direito a ter aulas de Educação Física na grade curricular como um componente da “proposta pedagógica das escolas”. “Mas infelizmente esse direito dos estudantes tem sido desrespeitado”, acredita o professor Célio José Borges, da Universidade Federal de Rondônia e coordenador do fórum. Segundo ele, a Educação Física Escolar (EFE) não é debatida com seriedade desde a década de 1980 e acabou sendo deixada de lado no planejamento pedagógico das escolas.
Com a experiência de 28 anos na área, foi do professor a iniciativa da criação de um fórum para discutir soluções para o ensino da Educação Física dentro do Congresso Mundial de Educação Física, que acontece anualmente em Foz do Iguaçu no Paraná desde 1985. A primeira edição do debate aconteceu em 2007. “Tivemos uma participação bastante significativa. O encontro gerou uma carta de intenções e caminhos para a Educação Física Escolar”, conta o coordenador. As discussões chamaram a atenção de especialistas e educadores de outros países e na edição deste ano o fórum passou a incorporar debates sobre EFE no âmbito do Mercosul. “Recebemos esse ano palestrantes de cinco continentes. Não é só no Brasil que a Educação Física Escolar vai mal, nossos vizinhos argentinos, por exemplo, enfrentam os mesmos problemas”, acredita Borges.
Soluções – Transformar a escola em um centro de excelência esportiva, de prevenção da obesidade e doenças e criar o hábito nos estudantes da prática regular de exercícios são os principais objetivos de uma EFE de qualidade, de acordo com o professor Célio Borges. “Como está hoje, a Educação Física Escolar se resume, muitas vezes, a dar uma bola para as crianças jogarem. Falta pedagogia e o processo é excludente, deixando de lado aqueles que têm dificuldades físicas e psicológicas de integração. A EFE tem um potencial incrível, que tem sido desperdiçado, de ser uma parceira no processo cognitivo de crianças de todas as idades”, avalia o professor.
Para conseguir atingir esses objetivos, Borges acredita ser necessário investimentos significativos em infra-estrutura e formação de professores, além de rever a alocação de recursos para a Educação Física pelas secretarias, prefeituras e escolas. “Precisamos discutir desde temas estruturais como a carga horária das aulas de EFE dentro do currículo escolar, que tem sido desrespeitada, bem como questões metodológicas, como o retorno dos exames médicos e biométricos para acompanhar o desenvolvimento dos alunos”, sugere o professor. Para ele não adianta investir no esporte escolar sem pensar na Educação Física. “Muitos investimentos acabam indo na direção errada, estimulando um tipo de atividade física na escola que tem caráter competitivo e não formador. Se tivermos uma EFE fortalecida, o desenvolvimento do esporte na escola será uma conseqüência natural”, acredita.
Ações – Para o fórum de 2009, que deve acontecer na segunda quinzena de janeiro, a perspectiva é de que as discussões comecem a se tornar realidade por meio de ações junto a Conselho Federal de Educação Física e o MEC. “Um dos nossos desafios é mensurar numericamente a situação da EFE no Brasil e fazer com que os debates do fórum sejam aplicados regionalmente por meio de boas políticas públicas. 2009 será, oficialmente, o ano da Educação Física Escolar pela Federação Internacional de Educação Física. Esperamos que seja um ano para começarmos a tirar o Brasil da defasagem em que se encontra”, espera o professor Borges.
Publicação arquivada em: Educação Física Escolar
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